O jornal Correio do Povo de hoje (25/7/2011, p. 2) publica uma coluna intitulada “Colonos e motoristas”. O autor do texto é Selvino Heck, apresentado como “assessor da secretaria geral da presidência da República”.

 

Heck, nascido e criado na picada Santa Emília, município de Venâncio Aires, conta que “fui para a Escola São Luiz, com 6 anos, mais falando alemão que português”. Fiquei imaginando – se essa figura que atende pelo nome de Jair Krischke leu a coluna, a essa altura, já deve ter acionado até mecanismos internacionais para alertar a presidente Dilma Rousseff sobre os perigos mortais que corre o Brasil e o próprio planeta com Selvino Heck infiltrado no Palácio do Planalto, pois, para a citada figura, falar alemão é prova definitiva de nazismo (como mostram palavras textuais dessa figura publicadas neste site).

O “coloninho” que vos fala não teve tanta sorte quanto Selvino Heck. Como de Lajeado Terêncio, onde morava, até o Povoado Machado, eram 2,5 km, só começou a ir à escola com 8 anos completos, porque a distância precisava ser vencida a pé, e descalço. Mas, da mesma forma que Heck, falava alemão com os coleguinhas com que ia se encontrando ao longo do caminho. Em dia de chuva, no inverno, aquele barro vermelho acumulado entre os dedos dos pés ia esfriando, no decorrer da aula, e causava uma ardência terrível, o corpo todo estava apenas protegido por um casaquinho muito fininho, costurado pela mãe. Disso tudo, resultava uma tremedeira que deixava a gente esgotado, no final da manhã.

Em contrapartida, o neto do pastor Krischke estudava numa ótima escola católica, em dias de frio, vestia botinas forradas, com aquelas meias compridas, de lã grossa, até o joelho, uma calça também de lã, um ótimo casacão, também forrado, que até capuz tinha - tudo coisas que o avô tinha trazido do estrangeiro, quando ia a conferências internacionais da sua igreja. Talvez venha daí o ódio de Jair Krischke contra a ralé dos "coloninhos".

Mas o “coloninho” que vos fala sobreviveu às adversidades, e acaba de dar uma entrevista ao Instituto Humanitas da UNISINOS, que pode ser conferida no link abaixo [25/7/2011]

http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_entrevistas&Itemid=29&task=entrevista&id=45624