O fantasma do “neonazismo” em Teutônia retornou ao noticiário da imprensa.

 

Meu texto intitulado “Considerações sobre opiniões e estudos em torno de nazismo e ‘neonazismo’ no Brasil”, neste site, termina com informações sobre o frenesi que perpassou a imprensa, em meados de 2009, quando um suposto ou efetivo assassino de um casal no Paraná - todos, suposta ou efetivamente, “neonazistas” - foi preso em Teutônia. Durante o mês de agosto de 2010, placas de trânsito e paradas de ônibus ao longo da rodovia RS 128, que passa pelo município, foram pichadas com suásticas e frases de conotação racista. O jornal O Informativo, de Lajeado, que em 2009 havia dado destaque à afirmação do delegado de polícia de Teutônia, Mauro Mallmann, de que não havia encontrado qualquer sinal sobre a existência de um grupo “neonazista” no município, noticiou, agora, em sua edição de 20 de agosto de 2010, que “pelo menos quatro jovens ..., com roupas pretas e cabelos raspados, estariam programando pelo menos um ataque na cidade”. O Correio do Povo de 24 de agosto repercutiu o mesmo assunto, numa matéria intitulada “Polícia investiga possível retorno de neonazistas a Teutônia”. Segundo essa matéria, o suposto ou efetivo grupo estaria constituído de “três ou quatro jovens” (na segunda hipótese, 0,016% da população do município). A matéria continua: “Há pouco mais de um ano, um grupo foi desarticulado no município após a morte de um casal no Paraná, durante uma disputa de poder por causa de uma organização nacional neonazista”. Aqui estamos diante de, no mínimo, uma inverdade. Mas o site de notícias R7 conseguiu ser mais irresponsável ainda, no mesmo dia, quando também se referiu ao tema, dizendo "há pouco mais de um ano, um grupo foi desarticulado no município após a morte de um casal que tinha envolvimento com um grupo que se intitulava nazista". Como em toda a matéria não há qualquer referência ao Paraná, onde esses fatos aconteceram, o leitor, forçosamente, concluirá que tudo isso aconteceu em Teutônia. É o cúmulo da irresponsabilidade jornalística! Em Teutônia, não foi desarticulado nenhum grupo, simplesmente porque ele não existiu - ali foi preso um indivíduo que, suposta ou efetivamente, participou do assassinato no Paraná. Mais adiante, a matéria do Correio do Povo diz: “[Em 2009] um jovem foi detido e cinco pessoas respondem processo em liberdade”. Ainda que não se esteja, nesta frase, diante de uma inverdade explícita, a forma da redação, com certeza, terá induzido muitos leitores a imaginar que cinco pessoas de Teutônia “respondem processo em liberdade”. Na verdade, essas pessoas são de outros estados brasileiros, e não tem nada a ver com Teutônia - estão, suposta ou efetivamente, envolvidas no assassinato ocorrido no Paraná. Eu, desde o início, enxergava razões para encarar de forma crítica essas matérias sobre novas manifestações “neonazistas”, porque a) a citada rodovia fora motivo de protestos, algumas semanas antes, por falta de segurança; b) as notícias não falavam de pichações dentro da cidade ou no interior do município, mas exclusivamente ao longo da rodovia (dado que, no mínimo, justifica levantar a suspeita de que foram pessoas de fora do município que fizeram as pichações). E o fato de que as suásticas estão desenhadas de forma errada (coisa que um nazista ou "neonazista" jamais faria) reforça a suspeita de que se trata de um ato de provocação contra a população de Teutônia. Finalmente, no dia 26 de agosto, o mesmo Correio do Povo admitiu que “delegado especializado em crimes de intolerância nega caso de neonazismo em Teutônia”. Trata-se do delegado Paulo Cesar Jardim, que há muitos anos vem reprimindo atos classificados de “neonazistas” e monitorando suspeitos. Sem dúvida, é, no momento, o maior conhecedor do assunto, no Rio Grande do Sul. Ele foi enfático: “Eu afirmo que não existe grupo nazista em Teutônia”. Com a categoria de uma das poucas autoridades que assume sua responsabilidade diante de notícias tão graves para o convívio harmônico e civilizado da população gaúcha, o jornal afirmou que, “segundo o delegado, o alarme na cidade é uma ‘invenção’, e pode causar pânico entre os moradores”. Mesmo noticiando esse desmentido, o Correio do Povo fez questão de dizer que Teutônia é um “município com 25 mil habitantes e origem alemã”, voltando a afirmar que, em 2009, ali, “um jovem foi detido e cinco pessoas respondem processo em liberdade” (ou seja, para o menino ou a menina responsável pelo texto, Teutônia possui um passado "neonazista", fato que deve ter, forçosamente, algo a ver com a "origem alemã"). Isso tudo constitui motivo mais que suficiente para que outras autoridades, finalmente, saiam de sua letargia, deixem de preocupar-se, exclusivamente, com a erradicação de “neonazistas”, e passem a chamar à responsabilidade - de forma pública e rigorosa - também “anti-neonazistas” cujo objetivo não é combater os malvados dos “neonazistas”, mas, sim, exclusivamente, o de difamar determinados grupos da sociedade. Aplique-se o preceito constitucional e a respectiva legislação ordinária, exatamente como se faz com os "neonazistas" (há penalização prevista para quem difamar seres humanos - indivíduos ou coletividades - por causa de sua nacionalidade, sua religião, sua etnia etc.)! Aqui se brinca com fogo! Além do sentimento de pânico, de que fala o delegado Jardim, há motivos mais do que justificados para que o povo de Teutônia seja tomado por um sentimento de indignação - e aí a coisa pode ficar perigosa! Minha consciência me obriga a dar o alerta - mais do que isso não posso fazer! Mas as autoridades podem e devem tomar providências! E dos responsáveis pelos órgãos de imprensa deve-se exigir que selecionem os profissionais que vão redigir matérias sobre esse tema - não é possível entregar a redação de assunto tão grave a alguém cujo quociente de inteligência ou nível de conhecimento lhe permita, no máximo, elaborar uma nota sobre a momentosa polêmica em torno do responsável pela gravidez da “mulher-goiaba”. A quem tiver interesse em avaliar a irresponsabilidade jornalística neste caso recomendo ouvir a entrevista do delegado Mauro Mallmann sobre o tema, no link http://www.independente.com.br/player.php?cod=7396. [Caso tiveres dificuldade de abrir a página, digita o endereço no navegador].  [4/9/2010]

E a Rádio Independente de Lajeado foi importunar, mais uma vez, o delegado Mauro Mallmann, perguntando se ele tinha tomado providências contra um possível festerê do aniversário de Hitler, em 20/4/2011, em Teutônia. Nem a data conseguiram acertar! Se o povo de Teutônia tivesse fechado todas as ruas da cidade para festejar Hitler, o pessoal da rádio teria chegado com um dia de atraso para exigir providências "preventivas" ao delegado. É dose ! De tão desnorteados, a moça gagueja quando fala da data! Veja na internet:

http://www.independente.com.br/player.php?cod=12850 [27/4/2011]

O audio, às vezes, desaparece do site, mas o texto, com a data 21/4/2011, está lá, mais o título "Hoje comemoram [sic] 122 anos de nascimento de Adolf Hitler". Se alguém se interessar pelo audio, posso fornecer - gravei. Caso alguém não tenha entendido, o aniversário do Hitler é no dia 20 de abril.  [17/5/2011]