Está no mercado meu livro mais recente, chamado A trajetória de um professor-colono (São Leopoldo: OIKOS Editora, 2020). Martin Dreher, autor da “orelha”, estranhou a ausência de qualquer referência à família. Expliquei-lhe que se trata de apontamentos autobiográficos exclusivamente sobre minha atividade intelectual-profissional. Por isso, são citado(a)s aluno(a)s e colegas, mas esposa e filhas não.

Martin escreveu a “orelha” antes de ler o livro; foi-lhe solicitado que colocasse no papel aquilo que lhe veio à mente ao ouvir o nome do autor:

René Ernaini Gertz

O garoto veio do que hoje é Novo Machado/RS. Deram-lhe a alcunha Khrushchov. Nikita Khrushchov, primeiro ministro da União Soviética, estava em evidência. Até hoje, todo mundo pensa que isso aconteceu porque era descendente de teuto-russos (hoje seriam teuto-ucranianos). Mas ele nega, diz que foi pura coincidência. Lembro dele, pré-adolescente de calças curtas, chinelos de dedo e os dedinhos roxos de frio! Curioso, não evitava perguntar. Era a prefiguração do historiador que não se contentava com qualquer resposta. Como não pudesse participar de “clube” dos colegas mais adiantados que haviam fundado o “Ratio Club”, criou com pares de sua turma o “Gatio Club”. Gatos e Ratos eram intelectuais! Com outros dois do Gatio, dirigiu a revista para jovens luteranos Presença, fonte de muita dor de cabeça para a direção da Igreja de Confissão Luterana. Estávamos nos anos de chumbo no Brasil, e o cenário dessas reminiscências era escola de formação humanista, o Instituto Pré-Teológico, em São Leopoldo. Foi ali, assim penso, que foi se formando o historiador, que depois seguiu para a UNISINOS e, paralelamente, fazia curso teológico. Quem o marcou foi Helga Piccolo. Depois veio mestrado na UFRGS, doutorado em Berlim, sempre namorando a Ciência Política. Os temas de pesquisa foram fornecidos pelo mundo da imigração e pelas questões políticas que a envolviam, ao longo do século 20: Era Vargas, Integralismo e Nazismo, Nova Historiografia Alemã. Rigoroso na pesquisa, jamais admitiu as meias verdades.

Martin N. Dreher

 

O texto da contracapa, de Roswithia Weber, obviamente foi escrito após a leitura:

Agora não apenas histórias contadas para colegas, mas seu registro escrito. Dos detalhes do primeiro cachorro-quente saboreado aos 9 anos, à sensação de conforto ao observar que o diretor do banco estava com a “fatiota falhada”. Os detalhes trazem sempre o contexto do cenário regional ou nacional. A trajetória de um professor-colono apresenta as dificuldades e as conquistas na formação de um intelectual. De Novo Machado, passando por São Leopoldo, Porto Alegre e Berlim. Do companheiro “Tigrinho”, que o conduzia pela roça quando acompanhava o trabalho dos pais, ao ambiente universitário. Passando pela experiência na graduação, quando integrou a turma dos que “deram certo”, pelos episódios constrangedores no exército, e pelas batalhas no âmbito acadêmico, como a energia que dedicou à preservação do Acervo Benno Mentz, e sua persistência no combate ao senso comum propagado por “guardiões” do Estado Democrático de Direito.

Os meandros das atividades universitárias na docência e na pesquisa nos são revelados de forma leve e divertida. Com humor, expõe aspectos de seu relacionamento com colegas e alunos nas universidades onde atuou, e conta em detalhes situações folclóricas vivenciadas. Uma leitura para diferentes leitores: para relembrar do convívio, para conhecer o autor ou para entender “a trajetória de um professor-colono”.

Roswithia Weber

[17/6/2020]