Vou tomar a liberdade de modificar o breve texto postado nesta nota por alguns dias – mantendo o título. Em 14 de agosto de 2011, enviei, via correio eletrônico, acompanhado da digitalização de minha carteira de identidade e do cabeçalho de meus contracheques (para comprovar meus vínculos institucionais), o seguinte texto, para publicação na seção “artigos” do jornal Zero Hora:

“Após o regime militar, temos episódios classificados como ‘neonazistas’ no RS e em outros estados. Mas é nos últimos dez anos que correm notícias mais frequentes, na imprensa local e nacional. O senso comum sempre esteve equivocado sobre o ‘neonazismo’, mas autoridades policiais pareciam lidar de forma racional com ele.

“Infelizmente, isso mudou, desde novembro de 2010. No dia 19 desse mês, uma autoridade policial gaúcha declarou, no Senado, entre outras coisas pouco edificantes, que ‘a origem de tudo isso é no Rio Grande do Sul’. Em 11 de abril de 2011, a mesma autoridade disse a uma repórter: ‘A senhora lembra o seguinte: o sul do Brasil é basicamente originário de colonização alemã, italiana, polonesa’. Isso sugeriu que a explicação do senso comum fora adotada por autoridades policiais. No dia 6 de agosto, houve uma pancadaria entre dois grupos, em Porto Alegre. De novo, a imprensa brasileira foi inundada de notícias sobre ‘neonazismo’ gaúcho. No dia 8, um jornal de Porto Alegre noticiou que a mesma autoridade ‘descartou que a motivação tenha sido racismo’. Isso significaria que o país fora inundado por notícias falsas.

“Mas, eis que, no dia 9, a mesma autoridade se manifesta, em público, dizendo que está ‘na gênese’ do gaúcho a guarida para movimentos deste tipo. ‘A origem do povo gaúcho é colonial e, além disso, a Argentina, que abrigou oficiais nazistas após a 2ª Guerra Mundial, está aqui do lado e preocupa. Para a consolidação dessa ideologia, deve existir um meio viável, caso do Rio Grande do Sul [sic]. O neonazismo é uma coisa que jamais vai acabar’. Essas afirmações confirmam, em definitivo, que policiais gaúchos atribuem o ‘neonazismo’ a ‘alemães’, ‘italianos’ e ‘poloneses’.

“São afirmações preocupantes, pois, se o ‘neonazismo’ ‘jamais vai acabar’, a única saída seria a ‘solução final’ – isso significaria exterminar mais de 3 milhões de gaúchos com sobrenome alemão, italiano e polonês, para nos livrarmos de pequena parte dos 35 (!!) ‘neonazistas’ fichados pela polícia gaúcha. Como cidadão, não posso acreditar que as afirmações, feitas de público, por um agente de Estado possam ter endosso da cúpula dos agentes de Estado. Constitui tarefa urgentíssima, mudar, de forma radical, o enfoque, a doutrina sobre o combate ao ‘neonazismo’. Ou corremos o sério risco de desencadear aqui, gratuitamente, conflitos semelhantes aos da Bósnia. Ainda há tempo!”.

O pequeno artigo foi intitulado “Combate ao ‘neonazismo’”. Decorridos 15 dias, o texto não foi publicado. Considerando que, nesse meio tempo, foram publicadas várias “abobrinhas”, na seção, não há dúvida de que a publicação não ocorreu por decisão dos responsáveis. A primeira explicação para a negativa de publicação é, naturalmente, a mais geral – o clima em relação ao tema “neonazismo” está tão contaminado que qualquer referência que apresente uma discrepância mínima em relação à unanimidade do senso comum faz com que seu autor seja classificado, de imediato, como “neonazista”. Por isso, posso imaginar muito bem que meu texto foi, sumariamente, descartado para o lixo, pois se partiu, sem quaisquer rodeios, do pressuposto de que uma manifestação dessas só poderia ter partido de um “neonazista” (ainda que o autor possuísse títulos acadêmicos de universidades que não estão exatamente na rabeira dos rankings internacionais, e fosse professor nas duas mais importantes universidades de Porto Alegre e arredores)! Estou acostumado com isso – há indícios de que um órgão de informação forneceu o número de meu telefone privado (publicamente não disponível) a alguém, e, se isso efetivamente ocorreu, a cessão só pode ter-se dado porque fui denunciado como perigoso “neonazista”.

A segunda hipótese é menos pessimista. Como há uma rígida limitação quanto ao número de caracteres para os textos da citada seção do jornal, o próprio leitor poderá ver que o estilo acabou sendo telegráfico, obrigando-me a resumir conteúdos e ideias em expressões breves, por total falta de espaço para explicações mais detalhadas. Este é o caso do recurso à expressão “solução final”, para tentar alertar sobre o destino a que a lógica expressa na manifestação do delegado pode levar. Naquele contexto, não foi possível apresentar a ideia de forma diferente. Como aqui tenho mais espaço, vou retomar o assunto, na esperança de deixá-lo mais claro.

Conforme está dito em outro lugar deste site, tive um encontro com o delegado Paulo Cesar Jardim, em 2008, para falar sobre “neonazismo”. Meu interesse estava em saber se o “neonazismo” tinha algo a ver com a “colônia alemã” (como é opinião unânime no senso comum) ou não. Naquele momento, o delegado foi categórico pela negativa. Depois dessa data, acompanhei, com atenção, suas manifestações, pela imprensa, e sempre tive a impressão de que ele travava um combate racional contra esse tipo de extremismo. Quando, em agosto de 2010, extremistas “do outro lado”, isto é, extremistas supostamente anti”neonazistas”, cometeram um atentado contra o povo de Teutônia, eu o elogiei, nestas “Notas”, porque ele declarou, de forma categórica, que não havia nazistas naquele município, coisa que os extremistas, evidentemente, pretenderam difundir, na opinião pública, com seu ato.

Infelizmente, há indícios fortes de que o delegado deu uma guinada nos seus posicionamentos, o mais tardar em novembro de 2010. Desde então, há, no mínimo, três manifestações públicas suas que são absolutamente preocupantes. A primeira delas deu-se durante um ato contra preconceitos, no Senado Federal. A fala está na internet no link http://www.senado.gov.br/atividade/plenario/sessao/disc/getTexto.asp?s=203.4.53.O&disc=6/1/S. No caso, não se sabe que lamentar mais – aquilo que o delegado disse, ou o comportamento de nossos senadores, pois nenhum deles o aparteou, mostrando que todos concordaram com os termos da fala, ou, então, que todos estavam dormindo ou conversando. Pois nessa fala, o delegado desandou – mesmo o leitor leigo notará que o discurso é tão esotérico quanto o próprio esoterismo a que o delegado apelou. Mas aquilo que aqui interessa são as – no mínimo – insinuações de que o “neonazismo” deriva das populações de origem “imigrante”.

Em 11 de abril de 2011, o delegado disse a uma repórter que o entrevistava sobre “neonazismo”: “A senhora lembra o seguinte: o sul do Brasil é basicamente originário de colonização alemã, italiana, polonesa”. A afirmação pode ser conferida no link http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI5070131-EI6594,00-Os+neonazistas+sao+bem+mais+que+meia+duzia+afirma+delegado.html. Ela reforçava aquilo que fora dito no Senado. Finalmente, em declaração de 9 de agosto de 2011, todas as dúvidas porventura ainda existentes sobre a opinião atual do delegado em relação à origem do “neonazismo” caíram por terra. Desta vez ele foi explícito. A manifestação pode ser conferida no link http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI5286557-EI5030,00-O+neonazismo+nunca+acabara+diz+delegado+que+indiciou+no+RS.html. Ali se pode ler que "a origem do povo gaúcho é colonial e, além disso, a Argentina, que abrigou oficiais nazistas após a 2ª Guerra Mundial, está aqui do lado e preocupa. Para a consolidação dessa ideologia, deve existir um meio viável, caso do Rio Grande do Sul. O neonazismo é uma coisa que jamais vai acabar".

O apavorante de tudo isso é que o delegado está falando aqui como agente de Estado, e não como cidadão comum, manifestando um senso comum. Para a opinião pública, isso vai significar – com razão – o entendimento de que esse é o pensamento oficial do Estado gaúcho, do governo sul-rio-grandense. Daí minha dúvida/curiosidade expressa no título desta “Nota” – será que o governador Tarso Genro sabe dessa manifestação e a endossa? Como cidadão, não tenho outra possibilidade do que manifestar minha preocupação, em público.

Mas quero fazer mais algumas considerações, para justificar o recurso à expressão “solução final”, no texto enviado a Zero Hora, e não publicado. Realisticamente, o preocupante nas manifestações do delegado é que Hitler pensava exatamente da mesma forma – segundo ele, a Alemanha, e muitas outras partes do mundo, sofreriam com a suposta praga dos judeus, e como não haveria solução para isso, como não haveria forma de acabar com as supostas maldades provocadas pelos judeus, só restaria a “solução final”, isto é, o extermínio. Se os cidadãos de origem alemã, italiana e polonesa são os causadores do “neonazismo” no Brasil, e se uma autoridade policial diz que não se consegue acabar com esse mal, pessoas menos esclarecidas que o delegado muito facilmente tirarão a conclusão lógica desse tipo de afirmação. É evidente que esse não é o pensamento do delegado, ele, obviamente, só está preocupado com o combate ao “neonazismo”, e, de forma nenhuma, pensa em “solução final”. Mas há indícios de que existem gangues dedicadas a espalhar pelo país o ódio, principalmente, contra os “alemães”, provavelmente, para provocar reações, que, então, a posteriori, serviriam de prova da maldade inata dessa gente. Tudo indica que o atentado contra o povo de Teutônia, em agosto de 2010, tenha sido perpetrado com essa intenção. E elementos dessas gangues podem, muito bem, utilizar as afirmações do delegado para tentar desencadear a “solução final”.

As afirmações do delegado, no entanto, dão ensejo a mais algumas considerações. Se em outro lugar deste site, ponderei que o delegado sugeria que havia 40 “neonazistas” fichados por ele, ao longo de 10 anos (!), ele aqui é claro em citar o número de 35 (!). Mesmo que todos fossem de origem alemã, italiana e polonesa, representariam 0,001% (zero, vírgula, zero, zero, um!) dos descendentes dessas três “etnias”, pois, com certeza, há, no mínimo, 3.500.000 deles no estado. Repito e pergunto – mesmo na hipótese de que todos os 35 “neonazistas” gaúchos fossem de origem alemã, italiana e polonesa, seria justo emporcalhar a dignidade dos restantes 99,999% (!) por causa disso?

Mais – uma das coisas curiosas nos noticiários a respeito de atos “neonazistas” é a ausência de nomes dos autores. Por que será? Mas temos os nomes de 14 deles, envolvidos, direta ou indiretamente, no ataque a jovens judeus em Porto Alegre, no ano de 2005. Entre eles, há um único sobrenome exclusivamente alemão – Fábio Roberto Sturm (o único com um só sobrenome!). Além dele há mais dois jovens com um sobrenome alemão combinado com outro de outra origem, e três jovens em cujo sobrenome aparece um elemento italiano ligado a outro de outra origem. Excetuando a peculiaridade de Sturm (que, possivelmente, também possua um dos pais com sobrenome não alemão), os sobrenomes dos demais indicam que não devem ter nada mais de alemão ou de italiano que um pedaço do sobrenome.

Mas, mesmo admitindo que os 6 fossem lídimos “representantes” das “etnias” alemã e italiana, sobram 8 cujos sobrenomes são, em sua integralidade, “autenticamente” brasileiros, portanto, sem qualquer vestígio de “germanidade” ou “italianidade”. Não sabemos os sobrenomes dos demais 21 que faltam para completar o contingente total de 35. No entanto, não há razão para imaginar que a proporcionalidade seja diferente da dos 14 cujos sobrenomes conhecemos. Teríamos, então, no total, 15 com sobrenome parcialmente alemão e/ou italiano, e 20 com sobrenomes “autenticamente” brasileiros. O bom senso por si só sugere que emporcalhar a dignidade de quem quer que seja por causa de 35 jovens destemperados, dentro de uma população de 10 milhões, é um exagero claro, mas emporcalhar a dignidade de 3.500.000 de descendentes de alemães, italianos e poloneses por causa do destempero de menos de 0,0005% (zero, vírgula, zero, zero, zero, cinco!!!) deles é o cúmulo da irresponsabilidade!

[Entrementes, minhas pesquisas progrediram, e eu tenho, no momento, 32 dos 35 nomes do delegado. Posso dizer que o placar melhorou muito a meu favor: é um sobrenome exclusivamente alemão - o do citado Fábio Roberto Sturm, de quem não se sabe se não possui outro sobrenome de outra origem -, mais quatro sobrenomes duplos dos quais um é alemão, quatro sobrenomes duplos com um deles italiano (nenhum sinal de sobrenome polonês!), e 23 (eu disse 23!!!) sobrenomes sem qualquer resquício alemão, italiano ou polonês!!! Mesmo que os 3 sobrenomes faltantes para chegar ao total de 35 sejam todos alemães e/ou italianos, é certo que se trata de "soldados rasos", pois não são arrolados nos principais episódios que relatam atos "neonazistas", no Rio Grande do Sul, nos últimos dez anos. Data venia: se diante desses dados não constitui irresponsabilidade absoluta quando agentes de Estado afirmam que as "colônias" alemã, italiana e polonesa são responsáveis pelo "neonazismo", então nosso Estado Democrático de Direito realmente corre enorme perigo! - observação modificada em 22/4/2012].

Esse tipo de enfoque totalmente equivocado sobre o tema, inclusive tem custado caro aos oprimidos contribuintes brasileiros. Em julho de 2009, uma desastrada “comissão externa” da Câmara dos Deputados deslocou-se para Porto Alegre, a fim de verificar in loco a barbárie “neonazista” que pressupunha grassar por aqui. Esses senhores, com certeza, não viajaram de Brasília a Porto Alegre de ônibus, mas de avião, não se hospedaram num hotel da R. Voluntários da Pátria, não comeram prato-feito – e a conta de tudo isso foi paga pelos contribuintes brasileiros. Num ato de desvario em estado terminal – provavelmente por sugestão de uma das gangues especializadas em difamar a população de origem alemã do estado –, foi convocado para falar da barbárie que, supostamente, grassaria em seu município o delegado de polícia Mauro Mallmann, de Teutônia, um município em que não há nazistas nem “neonazistas”, conforme atestado pelo próprio delegado Paulo Cesar Jardim.

[Lá em Novo Machado, existe um provérbio que diz: "Man wird alt wie eine Kuh, und lernt immer noch 'was dazu" (em tradução mais ou menos livre: "A gente fica velho como uma vaca, mas não deixa de aprender coisas"). Pesquisando na Internet, acabo de descobrir que a constituição desse grupo aí e sua viagem a Porto Alegre, incluindo,  de forma expressa, a inominável hiperbestialogia da convocação do delegado Mauro Mallmann, de Teutônia, decorreu de um requerimento de uma senhora deputada do Rio Grande do Sul de nome Maria do Rosário Nunes! Cada coisa que a gente descobre na Internet! Uma cena a que assisti na televisão explica tudo: num debate em que essa senhora aí não tinha argumento consistente para rebater um interlocutor que constestava seus posicionamentos, ela atirou na cara do adversário a seguinte pergunta: "Como é mesmo seu sobrenome?". Meninos, essa ninguém me contou! Essa eu vi e ouvi! Está explicado por que tivemos de pagar esse passeio a uma tal de "comissão externa" da Câmara. Tenho a impressão de que alguém me contou que essa senhora dirige, atualmente, uma instância governamental dedicada a combater preconceitos e garantir Direitos Humanos. Os antigos teriam dito algo como "hé katálele guné én tô katálelo tópo"; os modernos costumam dizer "the right woman in the right place". Sancta simplicitas! Durma-se com tantos decibéis de insensatez! Eu disse insensatez?????].

 

[A dimensão do fiasco representado por essa "comissão externa" - que atendia pela pomposa sigla CEXNEONA - pode ser avaliada pelo fato de que, já três ou quatro dias antes do banzé promovido em Porto Alegre, o próprio delegado Paulo Cesar Jardim havia admitido, publicamente, que a enorme alaúza que fora desencadeada em torno do "neonazismo" no Rio Grande do Sul "foi um grande exagero" (http://www.leouve.com.br/geral/serra/regiao/ver/regiao_polacia_civil_diz_que_serra_nao_tem_grupos_de-38195.html) [aparentemente, o site retirou do ar o link com a notícia, mas tenho o áudio da declaração do delegado, contendo, inclusive, mais afirmações do que aquelas que constavam no site - posso fornecer a eventuais interessados].  Gente, vocês leram e entenderam corretamente, o homem que, há cerca de 10 anos, é apresentado como o maior entendido em "neonazismo" no Rio Grande do Sul afirmou que a satanização do povo simples e humilde de Teutônia, que iniciara em maio (de 2009), simplesmente "foi um grande exagero". E o nosso Ministério Público-RS dorme em berço explêndido (apesar de ostentar em seu site o texto da Lei 8.081, de 21/9/1990, sua aplicação parece estar jogada às traças - coloca no Google a expressão "lei 8.081" para ver seus desdobramentos posteriores) ! E o MPF de Lajeado está totalmente envolvido na caçada a "neonazistas" em Teutônia... Mas voltando à tal de "comissão externa" - depois de grassar por aqui, a CEXNEONA ainda fez um passeio para São Paulo, em 4 de setembro de 2009, e acabou encerrando, de forma melancólica, suas atividades, por total falta de substância a tratar. Procura-se em vão por um relatório final (se alguém descobrir, por favor, me informa). Mas o objetivo central foi alcançado: empresas aéreas, hotéis e restaurantes de luxo lucraram com as visitas dos nobres integrantes da "comissão", da mesma forma que lucram com as viagens de delegados de polícia que vão "buscar e trocar informações"  sobre "neonazismo" com colegas de outros estados. Também lucram jornalistas irresponsáveis que montam cenários de terror, com que incrementam seu "valor de mercado"; empresas jornalísticas aumentam a venda de seus produtos. E tu, meu caro cidadão besta, otário, que acabaste de comprar um quilinho de arroz e de feijão, pagaste uma fortuna em impostos para financiar essas asneiras irresponsáveis, de forma que não sobrou nada para comprar um pedacinho de linguiça ou torresmo para melhorar o gostinho do feijão. Os "capitalistas selvagens" do Brasil são inteligentíssimos: descobriram a mina que é a indústria do "neonazismo"].    

 

Outro tema – o delegado vem desenhando o fantasma do “perigo argentino”. De fato, há, na historiografia, informações sobre a fuga de oficiais nazistas para a Argentina. Não se pode, porém, imaginar que esses fugitivos tenham tido, na época, menos de 25 anos de idade. Se contarmos nos dedos, desde 1945, os mais jovens deles teriam (!) hoje, no mínimo, 91 anos! Estão mortos há bastante tempo!

Por último, uma observação a respeito dos agentes de Estado nesse episódio. Eu sempre imaginei que na ausência de qualquer ação por parte dos demais agentes de Estado contra aqueles que difamam, neste estado, indivíduos ou coletividades por causa de sua “etnia”, nacionalidade, religião etc. o Ministério Público deveria entrar em ação. Nesse sentido, enviei, via correio eletrônico, ao MP o meu texto “Considerações sobre opiniões e estudos em torno de nazismo e ‘neonazismo’ no Brasil” (publicado neste site), com pedido de que fosse repassado ao então procurador-geral Mauro Renner. Nunca tive resposta. Como digo no próprio texto, consigo imaginar que uma autoridade com esse sobrenome possa sentir-se constrangida a tomar alguma medida, por temer a acusação de estar agindo em “causa própria”. Por essa razão, quando Simone Mariano da Rocha se tornou procuradora-geral, imprimi o texto, marquei em amarelo algumas passagens centrais, e escrevi uma carta endereçada pessoalmente a ela. Essa correspondência foi, comprovadamente, entregue, pelos Correios, às 17h40min, do dia 8 de junho de 2009. [Caramba, só agora estou me dando conta de que essa data se localiza em meio ao período em que estava ocorrendo  a fuzarca da preparação da CEXNEONA da deputada Maria do Rosário Nunes. Com certeza, a procuradora-geral estava envolta pelo clima de belzebuização do povo de Teutônia, então reinante, e, provavelmente, convidada para participar do happening da deputada, em Porto Alegre. Pode-se compreender a situação da procuradora-geral: 100% do senso comum grita que 100% da população de Teutônia é constituida de animais "neonazistas", e 100% da imprensa, no mínimo, insinua o mesmo. E aí vem um historiadorzinho qualquer, metido a besta, que diz que não é assim! Nessa situação, não seria de admirar que ela, eventualmente, em vez de ler e se inteirar do conteúdo do escrito desse historiadorzinho, tivesse dado ordens sumárias para investigar o locutor que vos fala, como "neonazista"-provocador, até possível mentor intelectual das maldades que, naquele exato momento, estavam sendo atribuídas, em prosa e verso, na imprensa nacional e internacional, aos teutonienses]. Não estou fazendo nenhuma cobrança ao MP. Talvez eu até esteja totalmente enganado sobre suas atribuições, na defesa da sociedade. Talvez o MP tenha tomado providências, e esteja agindo, sem qualquer alarde. Apenas estou aproveitando este texto, que pretende ser um tipo de balanço da minha tentativa de fazer algo para evitar uma escalada de ódios “étnicos” neste estado, para informar, de público, que o MP não pode alegar que não sabia dos fatos.

Termino esta longa “Nota” dizendo que fiz aquilo que está dentro das minhas possibilidades. Meu site continua disponível para debater o tema. E eu continuarei atento, e livre para publicar minhas observações a respeito. [Os trechos em destaque nesta nota foram acrescentados, em vários momentos, na virada de 2011 para 2012. Com eles, o parágrafo que antecede esta observação, a rigor, perde seu sentido, mas vou deixá-lo como um posicionamento que reflete o momento em que a nota original foi escrita. Com as novas descobertas, sou obrigado a bradar: "MP-RS, onde estás? Faz 'uhu'!, para a gente tentar localizá-lo!". O MPF de Lajeado teve a coragem de tomar posição - infelizmente, do lado errado -, o MP-RS, até prova em contrário, parece ter optado pela "coluna do meio", não é nem a favor nem contra. Aquelas pessoas - no pleno gozo de sua cidadania brasileira - agredidas, exclusivamente, por causa do sobrenome que têm que são católicas ainda possuem a opção de irem queixar-se ao bispo, já as demais...].  

Parafraseando um famoso dito da História do Brasil – a questão do “neonazismo” é, sim, uma questão de polícia, não de política, e, muito, muito menos, de “etnia”! [30/8/2011]