Mais ou menos quatro anos atrás, quando comecei a colher informações sobre “neonazismo”, encontrei muitas referências ao delegado Paulo Cesar Jardim, apresentado como o principal conhecedor do tema, no Rio Grande do Sul. Em 2008, pedi-lhe uma audiência, no intuito de colher informações mais gerais, e, sobretudo, saber se os atos classificados como “neonazistas” tinham algo a ver com a “colônia alemã”. Fiquei uma tarde inteira na delegacia em que trabalha, e ele me deu acesso a uma grande quantidade de informações. Eu tinha receio de questioná-lo sobre sua visão em torno do envolvimento – ou não – da “colônia alemã”, pois isso poderia afetar minha busca de dados, e até gerar desconfiança de sua parte. Só quase ao final da tarde, a conversa direcionou-se para esse aspecto, e eu pude inquiri-lo, de forma mais ou menos natural, sobre isso. Naquele momento, ele foi categórico em dizer que nem os lugares em que os “neonazistas” se manifestam estão na “colônia” nem os indivíduos envolvidos são “alemães”. Como eu lhe havia explicado que meu interesse pelo tema derivava da minha longa tradição de estudos sobre a presença nazista no Brasil, durante a década de 1930, na despedida, me disse que, para estudar o “neonazismo”, eu deveria “trocar de canal”, expressão que interpretei como pretendendo dizer que não havia relação entre a presença nazista dos anos 1930 e o “neonazismo” atual, no Rio Grande do Sul.

Mas a história não termina aqui...

Depois da visita, concluí a primeira versão do texto “Considerações sobre opiniões e estudos em torno de nazismo e ‘neonazismo’ no Brasil”, e lhe enviei o arquivo, através do endereço de correio eletrônico que ele me fornecera. Aguardei alguns dias, e fiz uma ligação telefônica para ouvir sua opinião. Disse que estava em reunião, e não poderia conversar comigo. Esperei mais alguns dias, e fiz nova ligação. Mais uma vez, não podia atender-me. Como eu não tinha nenhuma possibilidade de aferir se ele, de fato, esteve ocupado, nas duas ocasiões em que tentei o contato, ou se não pretendia falar comigo, porque discordasse do conteúdo do meu texto, ou por outra razão, desisti de nova tentativa. Mas a impressão que ele me causara foi claramente positiva, e na versão definitiva do meu texto o cito de forma elogiosa (p. 30). Desde então, acompanhei, com atenção, suas manifestações na imprensa, e não encontrava razões para ressalvas significativas. Numa ocasião, em pequena matéria na Folha de São Paulo, em 2010, lhe foi atribuída a afirmação de que o “neonazismo” teria relação com a presença de “alemães” (e “italianos”) no estado. Mas como afirmações desse tipo não constavam em suas declarações mais detalhadas na imprensa gaúcha, não lhe atribuí importância.

Até tive motivos para confirmar minha boa impressão, quando, em agosto de 2010, o povo de Teutônia foi vítima de um atentado, no qual provocadores picharam sinais de trânsito e paradas de ônibus, ao longo da rodovia que atravessa o município, com símbolos nazistas, e jornalistas desvairados, na ânsia de, finalmente, conquistar um Prêmio Esso de Jornalismo, emporcalharam a dignidade da população local – nesse momento, o delegado Jardim declarou: “Eu afirmo que não existe grupo nazista em Teutônia”, que o alarme na cidade foi uma “invenção”, e poderia causar pânico entre os moradores (Correio do Povo, 26/8/2010). Nessa ocasião, publiquei aqui nas “Notícias/Notas” do site a observação francamente elogiosa de que o delegado fizera essa declaração “com a categoria de uma das poucas autoridades que assume sua responsabilidade diante de notícias tão graves para o convívio harmônico e civilizado da população gaúcha”. Com isso, está caracterizada, de forma claríssima, minha opinião em relação a ele, no período de 2008 – quando o conheci – até novembro de 2010, pois será difícil imaginar afirmação mais elogiosa que essa!

Nesta última data, o delegado noticiou uma ação policial, em Porto Alegre, na qual teria sido apreendido material com ameaças de morte ao senador Paulo Paim. Não se sabe se nessa operação foram descobertos fatos novos, ou se a influência da luminária máxima da historiografia gaúcha, Jair Krischke, sobre o delegado, finalmente, surtiu efeito, levando-o a mudar sua opinião sobre o assunto. Desde a citada data, há no mínimo, duas declarações públicas do delegado que merecem ser consideradas. Uma é sua fala no Senado da República, em 19 de novembro de 2010, e a outra uma entrevista ao Terra Magazine, de 11 de abril de 2011

(http://www.senado.gov.br/atividade/plenario/sessao/disc/getTexto.asp?s=203.4.53.O&disc=6/1/S

e

http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI5070131-EI6594,00-Os+neonazistas+sao+bem+mais+que+meia+duzia+afirma+delegado.html).

Inicialmente, cabe destacar duas informações de caráter numérico contidas nessas declarações do delegado. Quanto ao número de “neonazistas” no Rio Grande do Sul, ele afirmou, na fala aos senadores: “temos mais de trinta, quarenta pessoas indiciadas em inquérito policial”. Na entrevista ao Terra Magazine, citou um número intermediário (“mais de 35”), dado que reitera as afirmações feitas no Senado. Portanto, arredondando, trata-se de 40 “neonazistas” registrados, no estado. Deve-se imaginar que aconteceria se, dia desses, a imprensa noticiasse que o estado do Rio Grande do Sul, como um todo, está infestado com 40 facínoras “comuns”!

Uma doutoranda da UNICAMP, Adriana Abreu Magalhães Dias, me expôs à execração pública porque eu afirmei que os “neonazistas” brasileiros são jovens. O delegado Jardim, na entrevista ao Terra Magazine, afirma que “temos uma faixa de idade que varia de 17, 18 anos até 25, 30 anos”. Esses dois dados numéricos são importantes para uma primeira conclusão. Ainda que eu não tenha acesso a uma lista completa dos nomes desses 40 “neonazistas” registrados, entre aqueles que são de conhecimento público, os sobrenomes alemães estão, no máximo, dentro do nível percentual que se costuma atribuir ao conjunto da população gaúcha (cerca de 20%). Para ser concreto, entre os 14 nomes daqueles levados a julgamento, em 2010, em função do ataque a jovens judeus em 2005, consta um único sobrenome “puramente” alemão (Fábio Roberto Sturm), mais dois “híbridos”: Leandro Maurício Patiño Braun e Daniel Vieira Sperk. Desses dois últimos, o sobrenome do primeiro está envolto em alguns mistérios, sobre os quais escrevi uma nota de rodapé no meu citado texto (nota 47, p. 25). Isso sem perguntar se esses três rapazes possuem alguma coisa de “alemão” que vá além do sobrenome.

Altamente suspeito seria se a gente constatasse que não existe nem um único “neonazista” de sobrenome alemão. Mas como eles existem numa proporção muito semelhante àquela em que esses sobrenomes aparecem no conjunto da sociedade, isso indica que a população de sobrenome alemão está bem integrada, e apresenta os mesmos índices de bondade e de maldade que a sociedade gaúcha como um todo.

O senso comum, o delegado [na entrevista ao Terra Magazine, ele disse: “é um movimento internacional, com mais de 60 anos, que prega o prazer pelo ódio”], e, inclusive, certa historiografia que se pretende acadêmica, falam, com se fosse óbvio, de uma ligação direta e continuada do atual “neonazismo” com a presença do nazismo, nos anos 1930. Em outro lugar, chamei a atenção para o fato de que, até agora, ninguém identificou um único “neonazista” gaúcho sequer cujo avô ou pai tenha sido nazista, em 1935 – situação que tornaria ao menos plausível essa continuidade. E o dado numérico sobre a idade, fornecido pelo delegado Jardim, impõe conclusão lógica semelhante. Se os meninos possuem, no máximo, 30 anos, terão nascido depois de 1980, e se seu avô ou pai tivesse sido nazista jovem (digamos 20 anos, em 1935) terá tido 75 anos quando os meninos mais velhos tinham 10 anos. Esse dado torna pouco plausível que avôs ou pais tenham chamado seus netos ou filhos, justamente nesse momento da vida, para reafirmar seu passado nazista e doutriná-los a respeito, determinando uma continuidade familiar de nazista para “neonazista”!

Mas é exatamente essa perspectiva de que há uma linha de continuidade do nazismo dos anos 1930 para o “neonazismo” atual, e que este tenha a ver com a presença de “alemães” (e “italianos”), no Rio Grande do Sul, aparece nas manifestações mais recentes do delegado. Em sua fala no Senado, afirmou: “Transportando para os dias atuais, na década de 30, início da preparação da Segunda Guerra Mundial, nós sabemos – e os senhores que estudaram História vão lembrar – que tivemos o Partido Nacional-Socialista, o nacionalismo, o que é pregado por esse pessoal, de uma forma muito forte no sul do Brasil”; “[existem] inúmeras fotografias ... que mostram o Movimento Nacional-Socialista desfilando nas ruas de Porto Alegre”; “vejam os senhores que tudo isso está acontecendo no Rio Grande do Sul. A origem de tudo isso é no Rio Grande do Sul” [destaque acrescentado ao original].

E - por assim dizer, como corolário - o delegado, agora, está convicto de que a presença de "alemães" (de "italianos", aparentemente até de "poloneses") tem a ver, sim, com a existência de "neonazismo" no Rio Grande do Sul. Ainda que na fala ao Senado não haja frases explícitas nesse sentido, a insistência com a presença do nazismo nos anos 1930, no mínimo, sugere essa ligação com a população de origem alemã, já que o nazismo estava, basicamente, vinculado a essa "colônia". E, na entrevista ao Terra Magazine, essa convicção está claramente verbalizada. Quando a repórter disse: "Recentemente foram descobertas 25 gangues de skinheads em São Paulo. Há uma troca de informações entre as polícias?", o delegado respondeu: "Sim. O pessoal de São Paulo e do Rio Grande do Sul conversa muito. Eles vêm a Porto Alegre, nós vamos a São Paulo". E, de forma um tanto surpreendente, na continuidade dessa frase, sem qualquer intercalação, acrescentou: "A senhora lembra o seguinte: o sul do Brasil é basicamente originário de colonização alemã, italiana e polonesa. Não esquece que já tivemos, no Rio Grande do Sul, o partido nazista, funcionando de forma oficial na década de 1930": [o destaque foi acrescentado ao original]. O leitor atento até teria direito de perguntar que relação há entre esta última frase e a antecedente? A impressão que se tem é que o delegado queria evitar que a entrevista terminasse sem que ele tivesse podido lembrar o fato de que temos, aqui no estado, esse monte de gente exótica.

Um parêntese: curioso é que dos 387 comentários  - dos   quais alguns denotam ironia finíssima – postados, até 16 de abril de 2011, no site do Terra Magazine em reação à entrevista do delegado nem um único culpa os malvados dos “alemães” do Brasil pela existência do “neonazismo”.

Como o delegado, havia apresentado, até então, um trabalho que parecia racional sobre o “neonazismo”, no Rio Grande do Sul, não se pode descartar a possibilidade de que a guinada na sua visão sobre o papel do nazismo da década de 1930 e sobre o papel da parcela “alemã” da população gaúcha derive de novas descobertas. Mas uma leitura atenta de suas últimas manifestações, em especial sua fala no Senado, obriga a alguns questionamentos evidentes. Trata-se, sobretudo, de dois aspectos. O primeiro se refere ao recurso a elementos esotéricos, ao abordar a presença nazista. Ele disse: “começamos a estudar, a aprender sobre neonazismo. Tivemos de desenvolver alguns trabalhos de pesquisa, principalmente em relação à Segunda Guerra Mundial. Fomos entender quem era Hitler, qual era o pensamento, qual era a origem esotérica e espiritualista do movimento hitlerista” [ênfase acrescentada ao original]. Depois fala da Teosofia, de Helena Blavatsky, e da suposta ou efetiva distorção da doutrina teosófica por parte de Hitler, mas fica nebuloso que isso tem a ver com o nazismo no Rio Grande do Sul dos anos 1930, e mais nebuloso ainda que isso tem a ver com a presença do “neonazismo” atual. Além disso, nunca se viu qualquer historiador de peso manifestando preocupação com aspectos esotéricos do nazismo, seja para explicar sua existência na Alemanha, e muito menos para explicar sua atuação no Rio Grande do Sul. A certa altura, o delegado afirmou: “E foi baseado nesse pensamento de Blavatsky que algumas pessoas, principalmente aquelas que davam fundamentos esotéricos a Hitler, venderam para ele essa ideia, e ele, por meio da obra Mein Kampf, conhecida por muitas pessoas – imagino que alguns dos senhores já a leram – implantou o seu pensamento. Só que ele inverteu muitos dos posicionamentos de Blavatsky. Ele chegou ao ponto de inverter o símbolo mais importante católico da época, que era a atual suástica” [ênfase acrescentada ao original].

Isso soa muito a informação buscada em certas revistas de quinta categoria, com temáticas históricas, vendidas em banca de jornal, mas não como produto de pesquisa histórica séria. O professor João Fábio Bertonha, da Universidade Estadual de Maringá/PR, que é do ramo, publicou um artigo sobre “Nazismo, ocultismo e conspirações” na revista História – Unisinos (vol. 11, n. 3, 2007, p. 380-384 –

http://www.unisinos.br/publicacoes_cientificas/images/stories/Publicacoes/histv11n3/381a384_rs_bertonhal%5Brev%5D.pdf)

que começa com a seguinte frase: “Na sociedade contemporânea, tudo o que se refere a conspirações tem vendagem garantida”.

Não é possível entrar aqui na discussão sobre elementos esotéricos no nazismo, mas na extensa biografia clássica intitulada Hitler de Joachim Fest (1973, 1.190 páginas) não há referência a Helena Blavatzky; e na atualidade, o historiador britânico Ian Kershaw é considerado o maior conhecedor da biografia do ditador alemão; em seu recente livro Hitler (São Paulo: Companhia das Letras, 2010, 1.077 páginas) também não há referência a Blavatzky; e, ao referir-se à propalada influência de Adolf Lanz e sua revista Ostara sobre o pensamento de Hitler, escreve: “Para o regime nazista, o bizarro racista austríaco, longe de ser elogiado, seria acusado de ‘falsificar o pensamento racial através de uma doutrina secreta’” (p. 63).

É verdade que esse aspecto da influência esotérica é passível de discussão, de divergência, mas a coisa fica realmente problemática quando o delegado entra na análise do contexto histórico em que o nazismo se desenvolveu no Brasil da década de 1930. Basta citar um pequeno trecho da fala ao Senado: “Nós sabemos que, antes da Segunda Guerra, o Governo brasileiro, o nosso País estava a favor dos nazistas, a favor de Hitler. Somente na undécima hora, no finalzinho, quando foi estourar realmente a Segunda Guerra Mundial, Getúlio Vargas resolveu, por motivos que não me cabe abordar agora, apoiar as forças aliadas e decidiu decretar a extinção do movimento nazista ou do nazismo no Brasil. Isso foi no final de 1939, início de 1940 [destaque acrescentado ao original]. Mas lembro aos senhores que, logo depois [destaque acrescentado ao original], Plínio Salgado, que foi um Senador, um político muito conhecido na nossa história, criou o Partido Integralista, com os mesmos fundamentos do nazismo”.

Aqui estamos, simplesmente, diante de algo que Sérgio Porto – mais conhecido como Stanislaw Ponte Preta – chamou de “samba do crioulo doido”. O integralismo foi fundado em 1932, e atuou paralelo ao nazismo, até a proibição de ambos. Foi decretado ilegal em dezembro de 1937. Como os nazistas, inicialmente, imaginaram que seu partido não fora atingido pelo ato de proibição, por não ser um partido brasileiro, o governo Vargas teve de confirmar a proibição também para a ação deste partido. Com isso, do ponto de vista estritamente cronológico, o integralismo foi proibido antes do nazismo. Quanto a Plínio Salgado, nunca foi senador. Elegeu-se deputado federal em 1958, portanto 20 anos depois dos fatos narrados.

Além disso, o delegado anda falando muito insistentemente em conexões argentinas em relação ao Brasil. Ao menos naquilo que tange à história do nazismo nos anos 1930, não há trabalhos de historiadores sérios que os tenham detectado. Com isso, não se pretende dizer que eles não possam existir, no atual “neonazismo”, mas deveriam ser apresentadas provas.

De qualquer forma, é muito provável que a decisão do delegado Jardim em recorrer a Jair Krischke para assessorá-lo em assuntos esotéricos e históricos não tenha sido a mais sábia de sua vida, pois nas falas atuais do delegado – em especial na do Senado –, há erros históricos que independem de interpretação. Infelizmente, esses erros podem afetar a credibilidade das demais afirmações de Paulo Cesar Jardim – também sobre o “neonazismo”. Como tudo isso denota uma guinada na visão do delegado, não é esdrúxulo enxergar aí a mão de Jair Krischke, esse candidato imbatível ao Prêmio Nobel de História e ao Prêmio Nobel de Luta contra Preconceitos, em 2011. Na fala ao Senado, o delegado afirmou que sua ocupação com o “neonazismo” começou uns oito anos atrás, quando Jair Krischke fez uma denúncia. Como é público, este possui uma opinião lapidar sobre o papel dos “alemães”, no sul do Brasil, tanto no passado quanto no presente. Está na internet: “No Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e parte do Paraná, temos uma situação bem particular. Trata-se de uma região de forte colonização alemã, e que, em termos ideológicos, ficou parada no tempo. Ainda hoje, atuam inspirados na Alemanha nazista e apoiam o projeto de Hitler”

(http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1658&secao=252).

Se essa afirmação é verdadeira – ao menos, na forma generalizante em que está no texto –, deveria ter ocorrido, há muito tempo, intervenção federal nesses estados, para levar a cabo um projeto radical de desnazificação da população de origem alemã (e, possivelmente, de parte da população de outras origens, por ter sido contaminada pelos “alemães”). Neste caso, imagine-se o governador Tarso Genro levando a esposa Sandra Krebs para um campo de desnazificação (segundo a própria, ela gosta de pratos agridoces, porque é de origem alemã), para lá deveria ir também Airton Michels, secretário de segurança pública, chefe do delegado Jardim, que vem de Pedregulho, um lugar em que só há “alemãos” e “polacos”, o deputado Raul Pont deveria levar sua Liliane Seide Frömming, que, possivelmente, venha de algum municipiozinho germânico e luterano, e em cujo Currículo Lattes, no CNPq, consta que “compreende razoavelmente” alemão – para Jair Krischke, isso é um horror: “Ainda hoje, a 100 km de Porto Alegre, existe uma comunidade em que não se fala português. O Estado alemão tem uma postura de reconhecimento de sua culpa, mas a comunidade alemã aqui não reflete essa atitude” (a afirmação pode ser lida na internet

http://www.asa.org.br/boletim/96/96_h1.htm).

Por essa lógica, os governadores Olívio Dutra e Tarso Genro (para não falar de todos os “neoliberais”, desde Pedro Simon) deveriam ser responsabilizados como promotores do “neonazismo”, pois nenhum deles coibiu o ensino de alemão nas escolas gaúchas, e, portanto, a expansão da maldita língua alemã. Que horror!

Mas não é só! A partir das concepções da mente privilegiada desse cidadão, Dom Gílio Felício, o bispo negro de Bagé, deveria ser chamado à responsabilidade. Enquanto atuava em Santa Cruz do Sul, D. Gílio lembra que “quando celebramos com elementos da cultura afro, os descendentes de alemães e italianos entram em sintonia com facilidade. Daí, uma lição de vida: as culturas se complementam e fazem acontecer a fraternidade e a partilha”

(http://ospiti.peacelink.it/zumbi/news/semfro/259/sf259p05.html).

Por essa razão, quando o bispo volta a Santa Cruz, para visitar seus parentes ou sua madrinha, Edith Eidt, confraterniza com os “alemãos”, churrasqueia e conversa em alemão com eles. Movimenta-se totalmente livre e sozinho pela cidade, sem qualquer guarda-costas. Em contrapartida flagrante, o alemão Jair Krischke, quando vai a Santa Cruz, fica “impressionado com a quantidade de seguranças deslocados para me dar proteção” – está na Internet:

http://www.asa.org.br/boletim/96/96_h1.htm.

Qual desses dois homens estará andando na contramão da História? - aquele que prega a convivência pacífica entre os diferentes grupos que compõem nossa sociedade ou aquele que aponta o dedo-indicador para determinado grupo e diz aos demais: "se existem maldades neste país, os culpados são aqueles ali!"? Diante desse quadro, não há como não manifestar curiosidade se o bispo Egmont Krischke - caso estivesse vivo - se alinharia à primeira ou à segunda dessas duas atitudes.

Enfim, a ser verdadeira a afirmação categórica e generalizante desse indivíduo chamado Jair Krischke, só nos resta rezar para que Deus seja clemente para com nosso estado! Já se ele não conseguir provar suas afirmações ...

Diante desse quadro, o signatário deste texto está à disposição para um diálogo com o delegado Paulo Cesar Jardim, pois está convicto de que o “neonazismo” pode ser combatido, de forma eficaz, sem necessidade de recorrer a preconceitos, no mínimo, tão abomináveis quanto aqueles dos próprios “neonazistas”.

Ouvi dizer que existe uma lei implacável, chamada Lei de Murphy. Por isso, tenho plena consciência de que se até hoje o único “neonazista” pego na “colônia alemã” foi Jairo Maciel Fischer, que se refugiou em Teutônia, em 2009, a partir da publicação deste texto, os ditos serão descobertos e presos às chusmas, na “colônia”. Infelizmente, dura lex [de Murphy], sed lex. [7/5/2011]