Um tal de Jair Krischke, que já deve ter sido indicado várias vezes para o Prêmio Nobel da Paz, certa vez foi perguntado se “o crescimento da violência, como a atuação de grupos neonazistas como os skinheads, estaria ligado à colonização alemã no Rio Grande do Sul?”. Sua resposta: “O relatório do governo norte-americano a respeito da situação das vítimas no mundo destaca esse episódio. No Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e parte do Paraná, temos uma situação bem particular. Trata-se de uma região de forte colonização alemã e que, em termos ideológicos, ficou parada no tempo. Ainda hoje, atuam inspirados na Alemanha nazista e apoiam o projeto de Hitler”. Em outra entrevista, apresentou como indicador do caráter “neonazista” da população de origem alemã o fato de que “ainda hoje, a 100 km de Porto Alegre, existe uma comunidade em que não se fala português”. Mesmo não tendo identificado esse lugar, o contexto sugere que tenha pensado na região da Encosta da Serra, em torno do Morro Reuter – a cidade de mesmo nome localiza-se a 68 km da Capital.

 

 

Como mostrei na nota “A prefeita negra da Baumschneis”, na eleição municipal de 2012 foi eleita em Dois Irmãos, município da região, uma das aparentemente apenas três prefeitas negras de todo o Brasil. Talvez inspirada no tal de Jair Krischke, uma sedizente jornalista publicou no caderno “Donna” do jornal Zero Hora de 16 de dezembro de 2012 a seguinte asneira: “Surgiu na campanha eleitoral a definição que abriga, na mesma frase, a forasteira negra e a cidade de colonização alemã, a popularidade de uma dobrando a desconfiança de outra, a acolhida não deixa de evidenciar a maior diferença entre ambas”. Se isso fosse verdade, não há dúvida de que a prefeita teria sido impeachada muito logo. Mas, pasmem, hiper-racistas sedizentes antirracistas, a negra Tânia Terezinha da Silva se firmou no cargo, até as eleições de 2 de outubro de 2016, candidatou-se à reeleição, e venceu novamente. E mais, se em 2012 obteve 49% dos votos (contra 45,84% do candidato concorrente, com 2,27% de votos em branco e 2,89% de votos nulos), aumentou, agora, o escore para 53,33% (contra um total de 41,34% dos dois concorrentes juntos, com 2,32% de votos em branco e 2,99% de votos nulos) - e essa vitória foi conquistada, em 2012, contra o "alemão" Gerson Miguel Schwengber, um santa-cruzense, e, em 2016, contra o mesmo "alemão", mais um migrante de Chopinzinho/PR, Jair Francisco Quilin (não terá sido, originalmente, um "Kieling"?).

 

Xô, hiper-racistada sedizente antirracista! [3/10/2016]