Em junho de 2018, postei um texto crítico em relação a uma série transmitida pelo “Jornal da Band” sobre supostas atividades nazistas em São Francisco do Sul, SC, nos anos 1930/40. A irresponsabilidade desta matéria foi total, como fake new e como potencial de instigação ao ódio contra o povo catarinense, em especial a seus cidadãos de descendência alemã. Meu comentário está no seguinte link:
https://www.renegertz.com/noticias/9-notas/27-imprensalatrina
Sem ter-me preocupado com o assunto, nos anos seguintes, “navegações” mais recentes confirmaram a correção de minhas críticas, pelos “frutos” que a divulgação produziu. Encontrei dois vídeos, feitos por um mesmo grupo, vistos por milhares de pessoas. O primeiro intitulado “A ilha nazista – o perigo alemão no Brasil”, o segundo chamado “A ilha secreta abandonada, uma base naval alemã”. Além desses, há outros vídeos sobre o assunto. Por conter alguns dados a mais, recomendo olhar a primeira versão. A inspiração no vídeo do “Jornal da Band” é evidente, pois é mostrada uma casa que teria abrigado uma sede do partido nazista, prédio que, agora, está restaurado e ocupado por uma empresa. O texto que acompanha as imagens referentes à casa é um tipo de paráfrase do texto da matéria jornalística de 2018.
https://www.youtube.com/watch?v=uB2HjWC1Mbo
https://www.youtube.com/watch?v=N9x_dcEMQKE
Se os autores do vídeo se tivessem restringido a filmar as construções da base e a comentar aquilo que viram, poderia ter sido um documentário bem razoável, pois se confirma a grandiosidade do empreendimento. O problema é que – sem qualquer conhecimento de causa específico – se puseram a adotar a tese tosca de que se trata de uma base construída pelos nazistas. E aí, claro, o desastre é total. Pela cabeça desta gente não passou a ideia de sequer dar uma olhada no livro Rita, editado pela UNIVILLE, e disponível, gratuito, na internet. Um dos integrantes do grupo anda pelo terreno lendo, no celular, bobagens de uma banalidade constrangedora, como a de que Getúlio Vargas teria sido amigo de Hitler. Mais para o final, intensificaram a procura por suásticas. De fato encontraram duas, mas toda pessoa de posse de suas faculdades mentais enxerga que foram rabiscadas recentemente. Mesmo assim, em relação a uma delas, um dos integrantes do grupo arrisca a opinião de que, talvez, não fosse autêntica, pois a nazista se apresentaria numa inclinação de 45º, enquanto ela está em posição vertical. De fato, ambas estão desenhadas erradas (viradas)! O nivél primário, bronco de conhecimento histórico, obviamente, não permitiu aos autores do vídeo atinar que o ano do início da obra (1937) é o mesmo do início da fase mais brutal de perseguição a tudo que fosse “alemão”, em Santa Catarina, pelo governador Nereu Ramos. Que, portanto, a base não tem nada a ver com nazismo, mas, sim, que foi construída para combater uma delirada invasão alemã a Santa Catarina, por mar.
Minha busca mais recente por este tipo de vídeo derivou de um fato que tem raízes antigas. Em 2011, uma professora de jornalismo da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) resolveu “pautar”, como foco de uma disciplina, o tema nazismo entre a população “alemã” da cidade. O resultado deste “fantástico” empreendimento em sala de aula foi comentado por mim, na época, nos termos do link abaixo:
https://www.renegertz.com/noticias/9-notas/96-unisc
Agora docente na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e, portanto, sendo remunerada com dinheiro proveniente dos impostos que nós cidadãos brasileiros pagamos, a mesma professora-doutora resolveu “pautar” tema idêntico em relação aos “alemães” de Santa Catarina. O resultado foi o seguinte vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=opJSmR-yxfA
Assim como houve “barrigaços” comprometedores no primeiro vídeo, aqui a primeira falha – que mostra o esmero com que a professora-doutora corrige os trabalhos de seus alunos e de suas alunas – ocorre a 1 minuto e 27 segundos da gravação, quando aparece um prédio ao lado do qual existe uma bandeira com suástica, e sobre a imagem está escrito “sede do governo distrital de Santa Catarina, 1934”. Ora, “sede distrital do governo”? Que é isso? Na verdade, trata-se do prédio em que o estado de Santa Catarina se fez presente na Exposição Farroupilha, em Porto Alegre, no ano de 1935, ao lado do qual, por acaso, aparece uma bandeira com suástica, mas que não tem nada a ver com aquele prédio.
O objetivo declarado do vídeo é denunciar a banalização e o silêncio sobre o fato de que, nos anos 1930/1940, houve algo em torno de 500 nazistas espalhados por Santa Catarina, exigindo das poucas famílias que tiveram um antepassado como filiado que fizessem penitência pública pelas supostas barbáries – que ninguém sabe quais são, de forma concreta – que seus antepassados teriam praticado. Como este meu site pretende ser didático, sugiro à professora-doutora que, no próximo semestre, “paute” o tema “nacionalização” em Santa Catarina. Se é difícil apontar danos concretos, datáveis cometidos contra o Brasil por nazistas, é possível apontar barbáries muito concretas, contra milhares de pessoas, cometidas por agentes da política oficial de “nacionalização”, com extorsões, roubos, prisões, torturas, assassinatos. Estas barbáries são banalizadas e silenciadas por completo! Ou? [7/11/2023]