Se o prezado leitor possui ao menos um neurônio em funcionamento, fuja do senso comum quando ouvir falar de nazismo e “neonazismo” no Brasil (sobretudo do senso jornalístico).

De forma lamentabilíssima, incluem-se casos de senso acadêmico! Tendo em vista a matéria da TV Bandeirantes sobre o Canal do Linguado, dei uma olhada naquilo que se publicou a respeito, desde o início deste ano (2018).

O problema, obviamente, vai muito além dos erros históricos registrados nesse contexto. Um cidadão de Joinville resumiu bem o alcance e os perigos inerentes a esse tipo de “fake news”: "Estão publicando imagens de campos de concentração e vão mexer com antigas famílias da região, e certamente chamá-las de quintas colunas e nazistas”. A observação é totalmente procedente. Mesmo que não expressamente dito por nenhuma daquelas pessoas que defendem a demanda à Alemanha, não tardará que apareça alguém a sugerir que, caso a Alemanha não pague, se cobre dos “alemãos” de Santa Catarina. Esse não é um devaneio meu. Há manifestações em que essa forma de pensar está, no mínimo, subentendida. Vejamos: “Na década de 1930, Santa Catarina já era marcada pela presença alemã”. Nessa frase está, obviamente, subentendida a presença dos “alemãos” vindos ao estado, de forma sistemática, desde 1829. Um dos líderes da campanha pelo pedido de indenização afirmou o seguinte: "Santa Catarina foi uma grande colônia alemã. Em nome de uma relação comercial e afetiva tão forte que existiu nos anos de 1930, quando foi o fechamento do canal, fazemos um pedido de ajuda ao país que teria a maior competência para uma solução”. Aqui fica praticamente explícito que a referência é o conjunto de cidadãos catarinenses de origem alemã. A própria TV Bandeirantes publicou matérias em que afirma que “as obras aconteceram no município de São Francisco do Sul, em Santa Catarina. Uma cidade com grande concentração de imigrantes alemães, onde funcionava uma das mais atuantes células do Partido Nazista Brasileiro”. Na matéria televisiva, o jornalista mostra uma casa que teria servido de local de reunião dos nazistas locais, depois mostra os arredores da casa, uma paisagem de total abandono, e o texto que acompanha a cena sugere que esse espaço continua completamente empestado pelo nazismo, até hoje. O telespectador desavisado, naturalmente, vai projetar essa imagem não só sobre a matéria morta, o terreno, mas sobre o conjunto da população. Por tudo isso, não há dúvida de que essas manifestações devem ser vistas como, no mínimo, potenciais instigações ao ódio étnico-racial. É de chorar! Felizmente, em meio a esse mar de imbecilidade absoluta, encontram-se ao menos algumas observações sensatas: “Há muito tempo eu não via uma história tão bizarra como a publicada na Folha de S. Paulo em 31 de janeiro [de 2018]”. [Para poupar espaço e, sobretudo, evitar prejuízo à fluência da leitura, não se indicam as fontes; a quem tiver interesse, posso fornecê-las]. [10/7/2018]