Na manhã de sábado, dia 6 de agosto de 2011, aconteceu, em Porto Alegre, uma pancadaria entre dois grupos, com vários feridos. No decorrer do dia, as notícias a respeito se espalharam pelo Brasil, informando – com base em declarações apressadas de autoridades policiais – que se tratava de uma briga entre punks e skinheads.

 

Quando o Jornal do Brasil publicou o texto gerado pelo portal de notícias Terra, um pastor Joaquim, de Nichteroy, RJ, foi o primeiro a postar um comentário, nos seguintes termos: “Mais uma prova de civilidade na ‘Europa’ gaúcha. A civilização tem dessas coisas. Amém! kkkkkkk”. É muito provável que o pastor Joaquim, no seu culto de domingo, tenha feito intercessões a favor desse desgraçado povo “europeizado” do Rio Grande do Sul. Com certeza, tinha lido a matéria de 11 de abril de 2011, no site Terra Magazine, na qual uma autoridade policial gaúcha, ao tratar do “neonazismo”, disse à repórter: “A senhora lembra o seguinte: o sul do Brasil é basicamente originário de colonização alemã, italiana, polonesa”. Por consequência, pode-se imaginar muito bem que o pastor Joaquim, de Nichteroy, tenha incluído, de forma expressa, esses três tipos gaúchos, supostamente, portadores da barbárie absoluta, na sua intercessão.

Na segunda-feira, dia 8, o jornal Zero Hora, de Porto Alegre, mancheteou que “pancadaria em bar traz à tona ações neonazistas” (p. 30 – versão impressa). Mas, no mesmo dia, no Correio do Povo (p. 19 – versão impressa), aparentemente com informações mais atualizadas, podia ler-se que o delegado Paulo Cesar “Jardim descartou que a motivação tenha sido racismo”. Ou seja, no mínimo dos minima minimorum, não é líquido e certo que ali aconteceu um ataque “neonazista”. No entanto, mais uma vez, o Brasil todo já estava inundado com notícias sobre as barbáries que os “europeus” do Rio Grande do Sul (exempla gratia, o povo de Teutônia) cometem, todos os dias – naturalmente, só no imaginário dos demais brasileiros! E é muito triste constatar que pessoas que ostentam, em seus carros, decalcos que convocam ao boicote a determinados órgãos da imprensa burguesa, quando esses mesmos órgãos publicam qualquer bobajada sobre "neonazismo", não só acreditam, mas espalham a notícia para todo mundo!

As autoridades policiais de Santa Catarina, por enquanto, lidam de forma racional com o tema “neonazismo”. As do Paraná buscaram assessoria com pesquisadores da Universidade Federal daquele estado, e estabeleceram princípios muito sensatos sobre quem não deve ser acusado como responsável pelo “neonazismo”; como se deve lidar com “neonazistas” etc. Só as autoridades gaúchas continuam agindo, neste campo, em acordo com princípios, provavelmente, estabelecidos a partir da assessoria não institucionalizada de Jair Krischke. O problema é que se não se proceder a uma mudança radical nessas diretrizes, corremos o sério risco de nosso estado transformar-se numa Bósnia. Quando uma autoridade policial gaúcha vai ao Senado da República para, solenemente, anunciar que “a origem de tudo isso é no Rio Grande do Sul”, não se pode esperar outra coisa! Como já escrevi em outra nota desta página, não tenho recursos políticos, sociais, funcionais para fazer mais do que escrever este modesto alerta! [9/8/2011]