Textos

 

O sucesso econômico – real ou alegado – constitui uma das tentativas de legitimação mais recorrentes em regimes autoritários. Em 8 de maio de 1940, o órgão oficial do governo gaúcho Jornal do Estado escreveu: "E amanhã, quando balanceadas as contribuições de cada uma das unidades da Federação à obra enorme do Estado Novo, veremos que a do Rio Grande do Sul foi das maiores e mais decisivas, por isso que, integrada completamente em seus princípios, marcha a gleba gaúcha para a conquista acelerada daquele estágio de grandeza e de prosperidade que o regime preconizou na hora memorável em que surgiu". E, dois anos depois, em 1942, num livro comemorativo, intitulado Rio Grande do Sul: imagem da terra gaúcha, também publicado com as bênçãos oficiais, podia ler-se, no início de um capítulo sobre a "Geografia econômica", que "o progresso que o Rio Grande atingiu nestes últimos tempos é simplesmente assombroso em todos os setores da vida humana".

 

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Apresentar o fato histórico como texto literário tem muitos riscos. Inclusive o de deixar o leitor totalmente confuso.


 

         As duas áreas caminhavam de mãos dadas.[1] O segundo Prêmio Nobel de Literatura (1902) foi para o historiador Theodor Mommsen (1817-1903). Na época, se fazia história à maneira literária, narrada como se fosse um romance. Depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), essa narrativa histórica cedeu espaço para a argumentação. Em vez de contar, tentava-se explicar estruturas e processos por trás dos fatos, usando conceitos para esclarecer a lógica dos acontecimentos. Os eventos históricos eram, agora, uma aparência que encobria uma essência.

 

 

 

 



Conforme está anunciado no resumo desta comunicação, não se trata de uma contribuição inédita. Tentarei rememorar resultados de pesquisas já publicadas sobre aspectos políticos das regiões de colonização no Rio Grande do Sul, com ênfase especial para as regiões de colonização alemã – mas estou convicto de que várias das minhas observações e descobertas se aplicam, também, às regiões de colonização italiana, polonesa e de outra origem.

 

 

 

  No 6o Simpósio de História da Imigração e Colonização Alemãs no Rio Grande do Sul, promovido pelo Instituto Histórico de São Leopoldo, em 1984, Benjamin David Barbiaro apresentou um trabalho em que denunciou as agressões à natureza causadas pelos imigrantes alemães entre 1824 e 1830. As referências do autor se restringem, portanto, aos cinco anos iniciais da colonização, mas é legítimo pressupor que se o autor tivesse abordado um período histórico mais amplo suas conclusões sobre a devastação causada certamente teriam sido muito mais incisivas.

 

 

 

Quem fala dos resultados da imigração alemã em nosso estado quase sempre pensa em comunidades com alto grau de coesão interna, numa homogeneidade de pessoas no aspecto físico e nos traços culturais. Cidadãos melhor informados sabem, eventualmente, que existem algumas diferenças quanto à procedência regional (pomeranos, westfalianos), quanto à religião (luteranos, católicos), mas mesmo aqueles que têm essa consciência muito logo caem novamente na vala comum imaginando que, apesar de algumas diferenças, todos são vorazes devoradores de chucrute e de Eisbein. Vovó Emília Ikert não tinha a mínima idéia do que fosse Eisbein; quando queria fazer algo especial, fazia Borschtsch e Piroggen – ambos muito pouco germânicos.