Depois de uma semana em que a imprensa de latrina se esbaldou com o caso dos “túneis nazistas” em Ibirubá, a sexta-feira, 4 de outubro de 2019, trouxe novas emoções, com o caso da apreensão de um adolescente em Nova Santa Rita, que teria planejado atacar uma escola.
A repercussão, no entanto, foi bem diferente nos dois casos. No primeiro – o dos túneis –, o senso comum rolou solto. É impressionante que jornalistas conhecidos, blogueiros, colunistas, de quem se imagina que estejam escrevendo para esclarecer a opinião pública, para promover o bem da sociedade planetária ou de parcelas mais ou menos amplas dela, que estejam comprometidos com os Direitos Humanos Universais, e de quem, portanto, se espera que enxerguem ao menos dois palmos adiante do mais rasteiro senso comum, novamente tenham escrito as mais bestialógicas asneiras, com erros crassos em relação a fatos que não admitem opinião divergente, simplesmente porque são fatos.
Neste clima, a divulgação da apreensão do adolescente e do material encontrado com ele não teve a repercussão que essa mesma gente, certamente, esperava, ficando sua divulgação relativamente contida, quando ali de fato havia sinais de ter algo a ver com nazismo. Arrisco a opinião de que isso se deva a um grande e elogiável progresso que autoridades policiais do Rio Grande do Sul fizeram no campo da avaliação, na lida com supostos casos de nazismo/neonazismo e em sua divulgação. Apesar de que as imagens da suástica a mostrem desenhada corretamente, que na pistola de brinquedo apreendida houvesse inscrições em alemão correto, em nenhum momento, o delegado Mario Souza abriu o flanco para uma eventual dedução de que o adolescente fosse produto da “colonização alemã”. Mostrou elogiável objetividade, destacando aquilo que o rapaz efetivamente denota. Claro, eu mesmo gostaria de ter essa informação sobre a origem “étnica” dele – em tese, ele pode ser um “alemão” –, mas compreendo que a polícia não pode divulgar maiores informações sobre ele.
Quanto ao aprendizado policial sobre situações desse tipo, lembro da “estagiária nazista”, quando o delegado Paulo César Jardim, que eu havia criticado de forma incisiva, no passado, informou que não se tratava de um “caso de polícia” mas sim de um “caso clínico”; lembro também que o mesmo delegado foi exposto à execração pública por jornalistas e outros formadores de opinião irresponsáveis, quando afirmou que no corpo da “moça da suástica”, na verdade, estava desenhado um símbolo de “paz e amor”.
Sou obrigado a reconhecer que talvez tenha estado equivocado, quando, alguns meses atrás, por ocasião do atentado em Suzano/SP, alimentei a suspeita de que os serviços de vigilância policial poderiam ter falhado porque todas as energias, toda a atenção estavam concentradas, exclusivamente, em Teutônia, com uma “marcação” individual de absolutamente todos os seus 25.000 habitantes. Mas minha suspeita tinha razão de ser, porque, poucos anos atrás, uma técnica pericial em Antropologia do MPF (doutora na área pela UFRGS!) havia afirmado que “o conjunto dos concidadãos do município esta[va] fragilizado”, e um procurador da República havia promovido uma desneonazificação não só de Teutônia, mas de todo o vale do rio Taquari [para ver de que estou falando, clicar aqui]. Talvez o MPF e outras instâncias de Estado continuem com seu posicionamento arcaico, mas a ação mais recente das autoridades policiais sugere uma feliz mudança de rumo, em direção à sensatez!
Apesar dos cuidados para não identificar o rapaz e sua família, as próprias imagens da polícia fornecem algumas pistas, ao menos sobre sua condição social – devem morar na periferia de Nova Santa Rita, pois a rua está, visivelmente, sem calçamento, só com brita (um órgão de imprensa noticiou que os pais são “pessoas simples”). Outra curiosidade que eu gostaria de ter solucionada é quem é a pessoa reproduzida em uma das imagens apreendidas (além de Hitler e Pinochet)? [5/10/2019]